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Quem nasce primeiro: o Produto ou a Norma Técnica? O dilema da argamassa impermeável

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argamassa impermeável

Vamos falar talvez do primeiro produto com foco em impermeabilização fabricado no Brasil, com mais de 80 anos no mercado, usado em todo tipo de obra e hoje com diversos fabricantes atuantes: a argamassa impermeável.

Na sequência proposta de explorar os tipos de impermeabilização – ao menos os mais usados em nosso cotidiano -, e após a publicação de alguns artigos, vieram contribuições, comentários, críticas e sugestões. A partir de tais contribuições, é interessante observar que só o que incomoda e provoca reações deixa como resultado final uma melhor compreensão do todo.

A argamassa impermeável com aditivo impermeabilizante, vulgarmente chamado de aditivo hidrófugo, certamente participou das obras mais emblemáticas em nossa construção civil, nos últimos 80 anos ou mais. Não há uma loja de material de construção que deixe de colocar este produto em um local bem visível, logo na sua porta de entrada, de norte a sul de nosso País.

E isto me fez refletir sobre o paradigma de quem nasce primeiro: o produto impermeabilizante ou a Norma Técnica? Para fabricar qualquer coisa, temos que estabelecer parâmetros, características técnicas, testar seu efetivo desempenho, etc… Afinal, estamos prometendo estanqueidade à água!

Pois é. Após tantos anos de fabricação deste produto, apenas recentemente, por volta de 2011, é que criamos a norma ABNT NBR 16072 – Argamassa Impermeável, que foi publicada em 2012.

É importante esclarecer que se trata de um sistema não industrializado em que a argamassa é produzida no canteiro de obras e misturada com aditivos hidrofugantes, comercializados na forma líquida. Ao ser adicionado às argamassas, esse aditivo reduz sua permeabilidade, criando repelência à água na estrutura interna dos capilares, formando assim um revestimento com propriedades impermeabilizantes.

Veja as recomendações de uso de vários fabricantes pesquisados:

Impermeabilização de caixas d´água, rodapés úmidos, impermeabilização de piscinas, impermeabilização de áreas frias, paredes com umidade, infiltrações em lajes, umidade em pisos, argamassas de revestimento, reboco de paredes internas e externas, contrapisos em locais úmidos, alicerces e baldrames, subsolos, muros de arrimo, argamassas de assentamentos de blocos e tijolos, evitando umidade ascendente, concreto impermeável, etc… Serve para muitas aplicações!

A ABNT NBR 16072, estabelece a caracterização do aditivo impermeabilizante, conforme a ABNT NBR 10908 – Aditivos para argamassa e concreto, focando em ensaios de caracterização.

Os requisitos e critérios de desempenho da argamassa com aditivo impermeabilizante devem usar como referência os métodos de ensaios: ABNT NBR 10787; ABNT NBR 15258 e ABNT NBR 13276.

No total temos 11 normas técnicas a serem observadas para o uso da ABNT NBR 16072 – Argamassa impermeável.

O que temos de informação disponibilizada pelos fabricantes pesquisados:

Nenhuma referência, nos textos técnicos, à norma ABNT NBR 16072 e muito menos os métodos de ensaios de desempenho da argamassa, acima citados.

Um menciona, no texto técnico, as características do aditivo impermeabilizante, tais como: pH; teor de sólidos e massa específica e nada mais.

Voltamos ao paradigma! Como um produto com tantos anos de existência, usado e reusado, só conseguiu uma norma técnica em 2012?

Será que fazemos jus a fama de que os brasileiros sempre procrastinam as decisões? Será possível que mesmo após dezenas de anos de fabricação e uso deste aditivo, que hoje tem uma norma técnica, não tenhamos as informações corretas à nossa disposição?

Como continuamos a não citar ou referenciar as Normas nos textos técnicos do aditivo em questão?

Escutei muito na minha vida profissional que “o que vale é a prática da mão de obra e a confiança no produto”, mas na hora de um problema na obra, principalmente com o envolvimento de empresas profissionais e com construtoras, todos lembram e recorrem às Normas Técnicas para preservar o seu lado e definir as responsabilidades.

Temos ainda um outro lado deste paradigma, pois as Normas também servem para proteger a todos que usam produtos buscando uma solução de estanqueidade. E como fazer para se proteger se não temos nada de características técnicas ou de desempenho nas embalagens ou textos técnicos dos produtos disponibilizados no mercado?

Como a intenção desta série de artigos é de ser interativa, seguem as minhas propostas à discussão do tema, para as quais conto com seus comentários.

  1. Você já usou argamassa impermeável?
  2. O que você acha dos aditivos disponíveis no mercado a este tipo de impermeabilização?
  3. Como foi sua experiência?
  4. Você já lançou mão de Normas Técnicas para resolver conflitos quanto a qualidade ou desempenho do aditivo impermeabilizante?

Normas citadas:

ABNT NBR 16072 – Argamassa Impermeável

ABNT NBR 10908 – Aditivos para argamassa e concreto – Ensaios de uniformidade

ABNT NBR 10787 – Concreto endurecido — Determinação da penetração de água sob pressão

ABNT NBR 13276 – Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – Preparo da mistura e determinação do índice de consistência

ABNT NBR 15258 – Argamassa para revestimento de paredes e tetos – Determinação da resistência potencial de aderência à tração

Artigo anteriore-Book: “Tecnologia e Sistemas Construtivos de Concreto para Edificações”, de Arnoldo Wendler
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Professor na pós-graduação lato-sensu, nos cursos de patologia nas obras civis e de patologia na Impermeabilização, desde 2006, em diversas cidades do Brasil. Autor do livro "Látex Estireno Butadieno - Aplicação em Concretos de Cimento e Polímeros" Atuante desde 1978, com o conhecimento construído em atividades técnicas na criação, desenvolvimento e normalização de produtos ao mercado e de gestão em consultoria na área de tecnologia de impermeabilização de edificações residenciais, comerciais, industriais e de saneamento, proteção às estruturas de concreto e atenuação ao ruído de impacto entre lajes, elaborando projetos, procedimentos executivos, treinamentos “in company”, fiscalização de obras, objetivando dirimir dúvidas e possibilitando a implantação dos conteúdos dos projetos e normalizações, sempre com o alto padrão de excelência. Palestrante com mais de 60 trabalhos apresentados em congressos nacionais e internacionais com inúmeros artigos técnicos e matérias publicadas sobre proteção às estruturas, impermeabilização e isolação acústica, bem como atuante em comissões de estudo da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, CB 2 - Construção Civil; CB 22 – Impermeabilização e CB 90 – Qualificação de pessoas. Diretor Técnico da A2S Engenharia e perícia.

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