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Fases e evolução de projeto em processo BIM

Como gerenciar um processo incremental contínuo e colaborativo, onde as diferentes disciplinas trocam informações de modo simultâneo e interdependente?

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Projetos são o resultado de um processo de acúmulo de informações a respeito de uma solução para um problema, em geral complexo e bastante longo. Para gerenciar o processo de modo mais fácil ele tem sido subdividido em etapas e/ou fases, cada uma constituindo uma meta mensurável, em geral também associada a remuneração.  

No processo tradicional de projeto, em geral CAD, uma das funções mais importantes a cada etapa é a “compatibilização” entre as demandas das diferentes disciplinas, é o que caracteriza que o projeto alcançou determinado nível na sua evolução e após ela a respectiva documentação é atualizada e feita a emissão definitiva.

Esta abordagem se refletiu nas definições contidas nas normas ABNT NBR 16636-1:2017 Elaboração e desenvolvimento de serviços técnicos especializados de projetos arquitetônicos e urbanísticos. Parte 1: Diretrizes e terminologia e ABNT NBR 16636-2:2017 Elaboração e desenvolvimento de serviços técnicos especializados de projetos arquitetônicos e urbanísticos.  Parte 2: Projeto arquitetônico

A parte 2 prevê que o projeto de arquitetura seja dividido em duas fases, o que significa, por extensão do conceito, que esta divisão deve abranger as demais disciplinas:

— Fase de Preparação;

— Fase de Elaboração e Desenvolvimento de Projetos Técnicos;

Esta abordagem é semelhante a algumas normas BIM internacionais[1] onde se caracteriza uma fase pré-contrato e outra pós-contrato, como a BSI PAS 1192-2:2013 Specification for information management for the capital/delivery phase of construction projects using building information modelling, ou o BIM HandBook da Nova Zelândia[2].

Cada uma dessas fases se subdivide em diversas etapas, com definições conceituais:

Na Fase de Preparação temos as etapas:

a) levantamento de informações preliminares (LV- PRE); “etapa destinada à coleta das informações de referência que representem as condições preexistentes de interesse para instruir a elaboração do projeto.” Pode ser complementada pelo levantamento de informações técnicas e específicas (LVIT-ARQ) “obtenção das informações técnicas aplicadas necessárias ao desenvolvimento do projeto”.

b) programa geral de necessidades (PGN); “conjunto sistematizado de necessidades humanas, socioambientais e funcionais do contratante,
objetivando a materialização do projeto
”.

c) estudo de viabilidade do empreendimento (EVE).

d) levantamento das informações técnicas específicas (LVIT-ARQ) a serem fornecidas pelo empreendedor ou contratadas no projeto.

Já para a segunda fase a norma prevê:

a) levantamento de dados para arquitetura (LV-ARQ); levantamento das informações técnicas específicas (LVIT- ARQ) a serem fornecidas pelo empreendedor ou contratadas no projeto.

b) programa de necessidades para arquitetura (PN-ARQ);

c) estudo de viabilidade de arquitetura (EV-ARQ);

d) estudo preliminar arquitetônico (EP-ARQ);

e) anteprojeto arquitetônico (AP-ARQ);

f) projeto para licenciamentos (PL- ARQ);

g) estudo preliminar dos projetos complementares (EP-COMP);

h) anteprojetos complementares (AP-COMP);

i) projeto executivo arquitetônico (PE-ARQ);

j) projetos executivos complementares (PE-COMP);

k) projeto completo de edificação (PECE);

É fácil perceber que estas etapas estão encadeadas, cada uma precedida da anterior, em um processo linear, sequencial. E, embora a norma não defina a reponsabilidade pelas Fases e Etapas, o próprio fato de que o “programa geral de necessidades” seja seguido por um “programa de necessidades para arquitetura” permite inferir que a Fase de Preparação, mesmo que seja realizada por um arquiteto, não está necessariamente a cargo do arquiteto responsável pelo projeto de arquitetura. Claramente a fase de preparação é onde são definidos os requisitos gerais do empreendimento que vão orientar a fase seguinte. Em geral esta fase está a cargo do empreendedor, contratante ou proprietário, como nas normas internacionais citadas.

Mas na NBR as definições do conteúdo de cada uma dessas etapas são relativamente vagas, por exemplo:

estudo preliminar (EP): etapa destinada ao dimensionamento preliminar dos conceitos do projeto da edificação ou dos espaços livres públicos e privados.

anteprojeto arquitetônico:  etapa destinada à concepção e à representação das informações técnicas provisórias de detalhamento do projeto arquitetônico da edificação, ou dos espaços urbanos e de seus elementos, instalações e componentes…

Nelas não há um objetivo claro que caracterize a efetiva progressão do processo decisório e mesmo quando exige a “concepção e a representação das informações técnicas” elas são classificadas como “provisórias”.

Fica claro o caráter apenas orientativo dessa Norma pois a definição do conteúdo de cada etapa depende da elaboração de um plano de execução do projeto. Ou, no processo BIM, de um Plano de Execução BIM, PExBIM.

Mas no processo de projeto BIM o aprofundamento do processo decisório é contínuo e os entregáveis são muito diferentes. Além disso o desenvolvimento do projeto prescinde de etapas rigidamente delimitadas e a compatibilização é uma atividade rotineira, intrínseca ao processo de concepção e não algo que ocorra em momento isolado. Como o processo BIM é colaborativo e as informações comuns devem estar acessíveis a todos em um ambiente comum de dados o projeto em tese está continuamente coordenado e eventuais conflitos serão resolvidos pelo sistema de comunicação corrente, na maioria dois casos sem necessidade de uma reunião de coordenação. Liberadas dos conflitos mais comuns as reuniões de coordenação podem focar na otimização do projeto, sendo muito mais produtivas e rápidas.

Em nossos primeiros projetos em que o conceito BIM foi plenamente aplicado, com uso de ambiente de dados comum, o contrato ainda previa entrega de pranchas nas etapas intermediárias, no Estudo Preliminar e no Projeto Básico. Ao final dos trabalhos percebemos que elas nunca haviam sido impressas e nem sequer havia sido feito download de nenhuma delas… O projeto evoluiu baseado no modelo BIM federado e não havia necessidade de pranchas gráficas nas etapas intermediárias, salvo as para ao processo de licenciamento. E esperamos que em breve tampouco sejam necessárias no canteiro, substituídas por tablets e outros dispositivos…

Mas como gerenciar um processo incremental contínuo e colaborativo, onde as diferentes disciplinas trocam informações de modo simultâneo e interdependente? Como acompanhar a evolução do projeto?

A resposta é descrição do processo de projeto no PExBIM. Considerado um documento indispensável ele define as responsabilidades e conteúdo de entregáveis relativos a cada passo na evolução do projeto.

Mas para entender o PExBIM é importante diferenciar o nível de evolução do projeto (NEP) do nível de desenvolvimento dos componentes BIM (ND), uma confusão bastante comum.

NEP reflete o conjunto de informações – geométricas, gráficas, de dados de produto, requisitos etc. disponíveis e necessárias para atender um determinado estágio da definição da edificação. Este conteúdo informacional é descrito no PExBIM, onde também é atribuída a responsabilidade de sua produção.

Já o ND refere-se apenas aos componentes BIM que serão inseridos em um modelo em um determinado estágio da evolução do projeto. Ou seja, em uma etapa aquele componente será representado em um nível de desenvolvimento, e terá um responsável pela sua inserção mais adiante será outro nível e talvez outro responsável. Outro ponto relevante é que o ND define geometria e conteúdo de informação, mas não necessariamente o nível de detalhe gráfico. Por exemplo, em ND 400 o forro deve ter definido e representado o sistema de sustentação, mas sua representação gráfica não necessita de alta resolução ou de cores precisas, que serão necessárias em ND 300 quando o componente for utilizado para visualização do ambiente. Por isso o PExBIM deve definir o uso previsto para o modelo naquela etapa para que fique claro a respectiva necessidade de conteúdo informacional, pois conforme o uso teremos diferentes necessidades de informações e dados.

Porém que usos devem ser previstos em cada ponto da evolução do projeto? É preciso que eles atendam e sejam compatíveis com as informações naquele ponto da evolução. Um erro comum é desejarmos uma informação que ainda não está completamente definida, por exemplo um quantitativo detalhado de serviços quando o processo de execução ainda não está selecionado, ou uma vista com alto grau de detalhes – mobiliário, paisagismo, quando estes aspectos ainda estão indefinidos. Para isso temos que discutir mais profundamente o que são esses “Níveis de Evolução do Projeto’.

Níveis de evolução do projeto

Se um projeto é fundamentalmente a evolução de um processo decisório o primeiro passo é estabelecer que decisões são marcantes, ou seja aqueles pontos em que se decide pelo prosseguimento do projeto ou incorporação de novos atores etc. Porém estes pontos variam conforme a natureza do empreendimento. Projetos de edificações complexas como fábricas, hospitais ou laboratórios são diferentes de edifícios multifamiliares que por sua vez diferem de residenciais unifamiliares. Mas temos um complicador, pois que o processo decisório não é forçosamente sequencial, esses momentos podem se sobrepor um tanto, a decisão de contratar a obra, por exemplo, pode interagir com a própria definição do processo construtivo.

Mas algumas referências comuns são possíveis de identificar e ilustrados na Fig. 1.

  1. Um ponto em que se avalia uma oportunidade ou uma necessidade para empreender, a denominada “incepção”;
  2. A contratação do desenvolvimento do projeto, a “concepção” em si, que por sua vez vai se desdobrar em diversas etapas, em geral entrelaçadas;
  3. A seleção do processo e do modelo de contratação para a execução da obra;
  4. A execução da obra e a contratação dos componentes e equipamentos.
  5. O recebimento e o início da operação da instalação.
Figura 1: Os cinco principais pontos de decisão

Estes cinco momentos principais podem se sobrepor conforme a estrutura definida para o negócio e os modelos de contratação de projetistas e construtores e fornecedores de equipamentos, como mostra a figura 2:

Figura 2: Interdependência entre etapas em um tipo de projeto

Mas, para cada projeto, ou ao menos para cada tipo de projeto, teremos fases e etapas de conteúdos diferentes.

Em função disso para cada etapa é necessário definir:

  • Objetivos – com metas e indicadores
  • Responsáveis pelos processos
  • Prazos e recursos técnicos e financeiros
  • Ferramentas: aplicativos, usos, formatos de arquivos, procedimentos associados
  • Produtos ou entregáveis e seus responsáveis.

É o conjunto desses pontos que define o nível de evolução do projeto, se ele atingiu o ponto em que a decisão sobre continuar, contratar o projeto ou a obra pode ser tomada de modo seguro. Ou sejas se ele incorporou formalmente as informações necessárias para a tomada de decisão associada a este momento do projeto.

No processo BIM todos estes pontos estão detalhados no PExBIM. Mas entre as ferramentas e métodos a serem usados a simulação da construção, ou construção virtual, ganha destaque, pois é uma fonte de ganhos de economia de recursos, redução de prazos e riscos. Para uma construtora a capacidade de simular todos os processos construtivos e de montagem, com a definição de um planejamento confiável, com fluxo de caixa bem definido é uma vantagem competitiva enorme, por isso se coloca como um objetivo prioritário.

Para modelos de PExBIM ver o Anexo I dos Guias de Processo de Projeto BIM da ABDI, disponíveis nesse link e no livro de nossa autoria Gerenciamento e Coordenação de projetos BIM, disponível em E-book.

Ou na Versão impressa.


[1]  BSI PAS 1192-2:2013 Specification for information management for the capital/delivery phase of construction projects using building information modelling, BSI, 2013.

[2] Disponível em http://www.mbie.govt.nz/about/whats-happening/news/document-image-library/nz-bim-handbook.pdf

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