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Do ar para o concreto

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Com grande satisfação resolvi contar minha trajetória para inspirar jovens profissionais que buscam seus caminhos na profissão.

É interessante como nossas expectativas e interesses mudam em relação à nossa vocação profissional. Apesar de sempre ter me pautado pelo raciocínio lógico, sempre gostei muito de motores, carros e aviões. Aos 16 anos estava inclinado a ser piloto de aviões comerciais ou de carros de corrida (tínhamos ótimos pilotos e ídolos: Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet. Ayrton Senna veio mais tarde).

EU “perdido e feliz”

Naquela época, eu era um “rato” de oficina e passava as minhas férias sujo de graxa e muito feliz, nas oficinas de amigos, a quem devo muito do que aprendi sobre mecânica, para fazer funcionar os primeiros veículos que tive, se é que posso classificar assim aquelas sucatas ambulantes que eu insistia em fazer andar. O fato é que em direção ao que tinha em mente como futuro, acabei me envolvendo em experiências com kart, provas de quilômetro de arrancada e em uma corrida de carros, como piloto de teste, que gerou, para minha surpresa, um convite para eu ingressar numa equipe. Meu ego quase explodiu!

EUengenharia

Minha paixão por motores e velocidade foi por água abaixo depois de um pedido de minha mãe para abandonar este primeiro sonho. Mas motores também me vinculavam à engenharia e, para ficar mais próximo do que mais gostava, considerei a possibilidade de fazer engenharia aeronáutica. Desde os 13 anos eu já não residia mais com a minha família. Morava no Rio de Janeiro, estudava num colégio de freiras, o Santa Marcelina e morava num mosteiro Beneditino (experiência incrível!), situado a cerca de 500 metros do colégio. Aos 17 anos fui morar em uma república, em Campinas, para estudar num colégio ótimo para quem aspirava engenharia aeronáutica no ITA. Descobri, naquela época, que existiam mais de 20 tipos de engenharia (hoje são 34!). Estava me dedicando muito a este novo desafio!

Como a vida nos prega peças e o futuro às vezes não acontece exatamente como planejamos, tive um contratempo. Perdi um tio, logo após uma cirurgia cardíaca e, simultaneamente, o meu pai sofreu um infarto. Minha família residia em Ponte Nova, no Norte de Minas. Não pestanejei e decidi que não queria mais ficar tão longe de casa. Fui então transferido na metade do ano, para estudar num colégio interno em Viçosa, a 45 km da casa dos meus pais. Viçosa possui uma ótima universidade federal. Por limitação de orçamento e pelo novo contexto, comecei a me sentir literalmente muito afastado do ITA.

Passei a analisar outras especialidades de engenharia, tentando ser razoavelmente pragmático, considerando os cursos oferecidos em Viçosa. Por este motivo e também por influência de amigos engenheiros e arquitetos, comecei a olhar com mais carinho para a engenharia civil. Me interessava pelo melhor uso e funcionalidade dos espaços, por sistemas construtivos e já me incomodava ver nas construções corriqueiras um trabalho quase artesanal na execução das alvenarias e dos acabamentos. Isso nada tinha a ver com o contexto da engenharia mecânica e aeronáutica, de maior precisão e com características de industrialização e montagem. Também me incomodava a quantidade de falhas existentes em construções novas, sobretudo aquelas que eram produzidas para a população de baixa renda, financiadas pelo então BNH.

Foi então que optei pela engenharia civil, enxergando oportunidades para trabalhar na busca de uma forma de construir mais racionalizada e industrializada, com materiais e componentes que pudessem garantir melhor desempenho e durabilidade. Já não tinha dúvidas e me inscrevi para o vestibular de engenharia civil em Viçosa, onde cursei as matérias do básico durante um semestre, quando teve início uma greve de professores, que se estendeu por meses.

Para dar maior apoio aos meus avós maternos que moravam no Sul de Minas, minha família se mudou para Pouso Alegre. Meu pai então sugeriu a minha transferência para Faculdade de Engenharia Civil de Itajubá, a 70 km da nova residência da família. Não pestanejei e fui para lá, morando numa república de amigos conterrâneos de Poço Fundo, berço de minha família no Sul de Minas.

Passei, então, não somente a confirmar a minha vocação, como a me entusiasmar com tudo aquilo que aprendia.

Minha integração com a faculdade, com os colegas de turma e com os amigos da república me deu a chance de aprender e amadurecer num ambiente espetacular, conseguindo concatenar os estudos, com a música e diversão nos finais de semana, além de aulas de violão e de matemática que eu dava para compor a minha renda e pagar os custos de moradia. Resolvi isso em definitivo mais adiante, quando fui selecionado para trabalhar no laboratório e na monitoria de materiais de construção da faculdade, onde também fui representante estudantil junto ao conselho departamental e, depois, presidente do diretório acadêmico. Como prêmio da minha “chefe”, professora da cadeia de materiais de construção, ganhei um estágio de férias no IPT. Foi extraordinário! Eu continuava incomodado com métodos tradicionais de construção e com a má qualidade das estruturas de concreto armado.

Passei a me dedicar e estudar, paralelamente, patologia e terapia das estruturas de concreto. Sim! As estruturas envelhecem, ficam doentes e necessitam ser tratadas! Pois bem, por mais uma dessas adoráveis coincidências da vida, meu orientador no estágio do IPT foi nada menos que o Prof. Dr. Paulo Heleneum expoente mundial nesta especialidade e hoje um amigo e guru, de fundamental importância para consolidar o meu interesse por esta nova área, na qual acabei me especializando.

Me formei em julho de 1984, no auge de uma crise econômica e decidi mudar para São Paulo e iniciar minha atividade profissional.

#EUprofissional

Foram meses de batalha (e essa é uma outra história que posso contar numa outra oportunidade), até me ingressar no meu primeiro emprego na L. A. Falcão Bauer, contratado por outro ícone da engenharia nacional, o saudoso Dr. Luiz Alfredo Falcão Bauer, exatamente na área em que pretendia me especializar. Não posso deixar de mencionar que a minha indicação para o Dr. Bauer, exatamente no momento em que os meus recursos para pagar a pensão em que eu estava hospedado em São Paulo se esgotaram, foi realizada pelo hoje amigo Eng. Fernando Henrique Haidar, na época Diretor de Desenvolvimento da Eucatex, a quem sempre serei muito grato. Trabalhei em controle da qualidade de obras, em serviços especializados de engenharia e consultoria na BNA, empresa do grupo, na época sob a direção do Eng. Marcelo Cervetto de Mouraum craque e um profissional com quem aprendi muito e de quem me tornei amigo. As atividades da empresa incluíam: controle de recalque de edificações, provas de carga em diversas estruturas e em fundações, levantamento de anomalias e laudos para a correção de problemas construtivos e relativos à estabilidade de edificações. Também fui coordenador de uma equipe de consultoria e de execução de obras de recuperação e reforço estrutural, entregando vários projetos e empreendimentos de grande responsabilidade.

EUindústria

De lá fui para a indústria de produtos para a construção, onde fiquei por 20 anos, como executivo de empresas nacionais e multinacionais (FosrocDenver e Sika), sempre vinculado à recuperação, reforço e proteção de estruturas de concreto, área em que me especializei, tendo apresentado várias palestras em eventos nacionais e internacionais e redigido muitos artigos técnicos. Mantenho meu compromisso com esta área de interesse e até hoje dou aula em cursos, como o de Mestrado Profissional do IPT, onde sou professor convidado. A partir de um certo tempo, minha carreira teve um viés administrativo e executivo. Isso me levou a cursar um MBA Executivo Internacional na FIA/USP, de forma a complementar a minha formação. Na minha preparação para exercer funções como executivo e administrador, não posso deixar de mencionar a importância do Eng. William Edward Bennett, meu primeiro diretor Fosroc e do amigo, empresário e também engenheiro, Lars Falbe-Hansen, que sempre me apoiou ao longo de minha trajetória e me deu a primeira aula de marketing, durante um churrasco! Sou extremamente grato a ambos.

EUempreendedor

Também empreendi, com o amigo Tula, um engenheiro brilhante, como diretor e sócio fundador da OnSite, empresa de consultoria, projeto e gerenciamento orientada para a reabilitação de edificações, enfocando estritamente problemas de maior complexidade, através de uma rede integrada de consultores renomados e independentes, com especialização nas mais diversas especialidades.

Ao longo do período “EUindústria e EU empreendedor” exerci atividades institucionais no setor.

#EUinstitucional

Fui Presidente da ABCI – Associação Brasileira da Construção Industrializada, coordenei o Comitê CT-501 do IBRACON – Instituto Brasileiro do Concreto – que elaborou a norma NBR 14.050 da ABNT, sobre Revestimentos de Alto Desempenho para Pisos Industriais (RAD). Concebi e coordenei o Planejamento Estratégico do setor de Pisos Industriais e Revestimentos de Alto Desempenho para Pisos no Brasil, culminando com a fundação da ANAPRE – Associação Nacional de Pisos e Revestimentos. Fui também Conselheiro da revista Téchne (Editora Pini), principal revista nacional de Engenharia Civil e Construção, além de Coordenador Editorial e membro do Conselho Editorial das revistas Pisos Industriais e Impermeabiliza. Sou Conselheiro da Rayflex, indústria fabricante de portas automáticas para vários setores industriais e para logística.

#EUconstrução e incorporação

Atuo há 12 anos no setor de engenharia, construção e incorporação, dirigindo unidades de negócios e de serviços de empresas renomadas, começando pela Método Engenharia (uma ótima escola!), através do convite do Eng. Hugo Marques da Rosa, profissional e ser humano por quem tenho grande respeito e admiração. Depois disso, trabalhei para a JHSF, onde também exerci a posição de CEO de Incorporações e na Brookfield Incorporações (Tegra). Hoje sou Diretor Executivo e CEO da Mutual Engenharia e Construções, da qual também sou sócio. Nesta etapa, coloquei adiante minhas ideias e intenções de contribuir para transformar a construção tradicional numa indústria de fato, trabalhando na concepção e fazendo a gestão de projetos e da obra de montagem e construção de vários produtos industrializados.

Para consolidar a minha formação da gestão de empreendimentos, me certifiquei como Project Manager Professional (PMP) pelo Project Management Institute (PMI).

Tive a grata satisfação de entregar empreendimentos de porte e de grande projeção, dos quais participei desde a concepção e de todas as fases de projeto, incluindo a pré-construção (estudo de viabilidade, anteprojeto, desenvolvimento do projeto, orçamento e planejamento), da execução da obra e, em alguns, da etapa de pós-obra.

Fazendo um balanço sobre as minhas escolhas e experiências, sinto-me privilegiado por ter conseguido estruturar minha carreira profissional dentro das premissas e áreas de interesse que escolhi e nas quais me especializei. Como engenheiro civil e executivo do setor de engenharia, construção e incorporação, enxergo que tenho muito a contribuir, explorando as oportunidades que vislumbrava, ainda durante a minha formação universitária.

Vejo a engenharia, de forma ampla, como uma profissão abrangente e completa, que dá ao profissional capacidade administrativa e de gestão para trabalhar numa grande amplitude de negócios e setores.

Esta é a minha história, ou parte dela…

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Eng. Civil, MBA Executivo Internacional pela FIA/USP. Project Manager Professional (PMP) pelo PMI. Palestrante em congressos nacionais e internacionais (mais de 50 trabalhos publicados). Professor do Curso de Mestrado Profissional do IPT. Cursando Mestrado em Inovação na Construção pela POLI-USP Diretor Executivo/CEO em empresas nacionais e multinacionais no setor de Engenharia, Construção e Incorporação e na Indústria de Produtos para a Construção. Escrevo artigos sobre tecnologia, inovação e industrialização da construção para o Buildin, Construliga, C3 e Linkedin.

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