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A questão dos orçamentos no BIM

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BIM - orçamentos

Uma vez que orçamentos derivam de “processos” e não simplesmente de “elementos”, a questão de vincular diretamente um objeto BIM a um índice de custo é um pouco mais complexa. Quase sempre existem diversas maneiras para obter um mesmo resultado da construção;  podemos usar argamassa industrializada ou produzida na obra, portas prontas com ou sem pintura ou portas montadas na obra, enfim são múltiplas possibilidades para chegarmos a um mesmo produto da construção.

Em uma empresa construtora do ramo imobiliário, normalmente estas variações são menores, pois ela define um cardápio derivado de sua experiência, com dados confiáveis devido a um controle histórico. Mas se estamos desenvolvendo um projeto básico, onde os índices SINAPI são obrigatórios, os projetistas fazem escolhas que não serão obrigatoriamente seguidas adiante, até porque podem não ser as melhores, mas devem selecionar apenas entre as que estão disponíveis. Porém, mesmo com esta restrição, a tarefa não é simples, particularmente porque o projetista não costuma ter prática no gerenciamento de obras.

Por exemplo, para o serviço “EMBOÇO, PARA RECEBIMENTO DE CERÂMICA” com espessura de 10mm o SINAPI apresenta 4 opções, variando conforme o tamanho do ambiente e o processo e custos variando entre R$14,03 e R$29,01 por m², ou 106% de diferença, muito acima de qualquer faixa de precisão.

Mas, no modelo BIM, a representação é apenas “EMBOÇO”, com espessura editável.  Claro que podemos criar diversos tipos de “EMBOÇO”, de modo que correspondam à cada variação do SINAPI, e ainda travar a espessura em 10 mm ou qualquer outra, mas a seleção entre eles, afora nos casos em que ele varia conforme o ambiente onde será aplicado, é a critério do projetista. E o gerenciamento destes dados no modelo BIM não é tão fácil, seja por existirem muitos objetos bastante parecidos, seja por que associar um tipo de objeto a um parâmetro de um ambiente não é uma função corriqueira nos principais aplicativos de projeto. E o código SINAPI ser associado vai seguir os diferentes tipos previstos nessa base de dados.

No exemplo, caso o aplicativo seja o REVIT, é possível construir uma “família” e selecionar o tipo, com a respectiva codificação, mas isto terá que considerar a dimensão do ambiente em que ele será aplicado e o processo de execução definido. Porém, em um projeto básico o processo certamente não estará definido. Em complemento, o documento do IBRAOP define que o orçamento do projeto básico deve ter um grau de precisão de 10%, mas a opção permite, neste item, uma variação de 100%. Claro que o projetista via selecionar a situação que mais lhe interessa, seja por limite orçamentário da obra, seja para ficar mais confortável com o orçamento…

Em resumo, vincular um único índice de custo a um determinado elemento ou componente BIM em um projeto básico na maior parte das vezes corre o risco de ser uma decisão arbitrária e desvinculada da solução que efetivamente será utilizada na obra.

Respeitando esta linha, uma solução mais consistente seria termos faixas de variação de custo conforme as diferentes opções de processos possíveis. Desse modo, ao invés de no projeto básico termos um orçamento rigidamente definido, teremos como resultado uma faixa de variação de custo, ou seja, o cálculo seria baseado nas diferentes combinações possíveis e o valor de orçamento seria “entre R$XXXXX e R$ZZZZ”, como ilustrado na figura. Um estudo mais aprofundado, com uso do Método de Monte Carlo, pode inclusive definir probabilidades dos valores ao longo dessa faixa, espelhando melhor a realidade dos empreendimentos.

 Orçamento com faixa de resultados

Outro caminho, ao invés de vincularmos diretamente o elemento, classificado conforme a tabela 2C-Componentes da ABNT NBR 15965, a um índice de custos, seria vincular estes componentes BIM a um item da tabela 3R-Resultados da construção, onde se apresenta uma maior variedade de opções para a obtenção de um mesmo elemento ou componente. A vinculação dos itens da tabela 3R a um índice de custo tem melhor consistência e resulta em maior precisão, um “orçamento baseado em processos”. Mas essa opção só pode ser efetuada quando os processos executivos estiverem definidos, ou seja, após a fase de projeto executivo, durante o planejamento da obra.

Conclusões

A “automação” de orçamentos com uso de BIM na verdade ainda não pode ser absoluta, sempre necessita do discernimento a respeito dos processos a serem efetivamente utilizados. Hoje a vinculação dos componentes BIM a processos ainda não dispõe de aplicativos especializados que permitam a seleção de opções de execução. Mesmo quando um aplicativo de orçamento vincula um elemento a um índice de custo, ele o faz com base em um determinado processo, nem sempre explicitado claramente.

Finalmente é importante lembrar que orçamentos de referência e contratos não refletem a realidade dos custos dos executantes, são metas tanto para o contratante como para o contratado, que embutem também metas de fluxos de caixa e de rentabilidade da obra ou do empreendimento.

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